Fonte: DCI – 27/02/2012
A indústria brasileira começa a retomar o crescimento neste primeiro trimestre do ano e pode chegar a expandir a produção entre 1,5% e 3% em 2012, conforme estimativas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e a Fundação Getulio Vargas (FGV). As entidades estão mais otimistas, apesar de alguns dados, como os divulgados pela CNI na última sexta-feira, ainda demonstrarem fraqueza no desempenho do setor produtivo no mês de janeiro.
As instituições divergem, no entanto, sobre quando será retomado o crescimento. A aposta das duas primeiras é de retomada após o mês de março, enquanto a FGV projeta a inversão do desempenho já neste trimestre.
De acordo com Sondagem Industrial da CNI, para o mês de janeiro a produção manteve a tendência de queda iniciada em setembro de 2011, situando-se em 45 pontos ante 42,6 de dezembro e 45,6 no mesmo mês do ano passado. A utilização da capacidade instalada (UCI) ficou em 69%, abaixo dos 71% registrados em dezembro e dos 72% em igual mês de 2011. Já os estoques, continua a entidade, situaram-se acima do planejado, em 52,7 pontos. No entanto, os empresários mostram-se mais otimistas em fevereiro do que em janeiro.
“Os números mostram que a indústria continua tendo problemas, não conseguiu reduzir seus estoques e, por conta disso, continua reduzindo a produção”, avalia o economista da CNI Marcelo Azevedo. Segundo ele, a queda dos estoques só deve ocorrer a partir de março, e mesmo que haja uma retomada da produção, ela não deve atingir o nível considerado normal. Para 2012, a perspectiva da CNI é de aumento de 2,3% no PIB industrial, ante o crescimento de 1,8% de 2011.
Para o Iedi, a perspectiva de crescimento é evidente para o setor produtivo, porém não deverá ocorrer no primeiro trimestre do ano. De acordo com Júlio Gomes de Almeida, diretor executivo da entidade, a aposta era de um número melhor que o reportado pela CNI. “Apesar de não ser um indicador positivo, a indústria está melhor que no último trimestre do ano e a tendência é de que melhore ainda mais com o passar deste ano”, avalia ele, que já ocupou o cargo de secretário de política econômica. “Acredito que o crescimento da indústria possa alcançar os 3% em 2012 e fique nesse patamar limitada pelos problemas estruturais e de competitividade que vem travando o setor produtivo nacional”, afirmou o executivo.
Insumos
Como reflexo dessa percepção, um dos setores chamados de transversais, ou seja, que atuam no fornecimento de insumos para uma ampla gama de segmentos industriais, o químico aposta no crescimento da demanda. Segundo o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), 2012 deverá continuar a apresentar crescimento no consumo aparente desses produtos. “Historicamente crescemos 25% a mais que o PIB brasileiro por sermos fornecedores da indústria em geral e nossa perspectiva é de manter o desempenho do ano passado”, disse ele que justificou esse aumento justamente à expectativa de crescimento do setor produtivo brasileiro.
A FGV tem perspectivas mais otimistas para a recuperação da produção industrial e espera a inversão do desempenho já no primeiro trimestre. Com base na Sondagem Industrial da entidade, o economista Aloisio Campelo calcula crescimento acima de 1% para o período. Isto porque, entre outros fatores, os estoques mostraram uma recuperação favorável em relação ao fim de 2011.
Em janeiro, apenas três setores, dentre os 14 avaliados pelo indicador, estavam “superestocados”. São eles o mobiliário, têxtil e farmacêutico, que representam apenas 6% do PIB da indústria. Em dezembro, eram seis os segmentos com sobra de estoque, ou 41% da indústria. “O reaquecimento da demanda interna e medidas de estímulo à indústria, como o aumento do IPI para veículos importados, a redução deste imposto para produtos de linha branca e a desoneração da folha de pagamento contribuíram positivamente para este resultado”, afirma Campelo.
“Com o equilíbrio dos estoques, a indústria está preparada para responder ao estímulo de demanda com aumento da produção”, afirma ele, mas ressalva que o Índice de Confiança da Indústria de fevereiro, estável em 102,3 pontos, em relação a janeiro, mostra que essa recuperação será lenta. Para o ano, caso não haja agravamento da crise internacional e o setor responda positivamente aos estímulos macroeconômicos, a FGV estima crescimento de 1,5% a 2%, ante avanço de apenas 0,3% em 2011. “Num desempenho muito exuberante, com muitas medidas de estímulo, chegaria a 2,5%, 2,8%”, diz.
Estoques
O setor automotivo, uma das maiores cadeias industriais no Brasil, conseguiu reduzir seus estoques desde o final do ano passado. No fechamento de novembro, o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini, externava a sua preocupação com o aumento de automóveis parados nos pátios das montadoras. Porém, esse número recuou e, de acordo com o diretor de relações institucionais, Ademar Cantero, hoje a indústria automobilística trabalha com volumes mais desejáveis de estoques, em torno de 30 dias.
“Em dezembro, os estoques estavam maiores, mas esse comportamento da indústria é sazonal”, avaliou. Em janeiro, o indicador estava na casa de 36 dias, o equivalente a 319 mil veículos. “Mas é considerado normal para essa época do ano”, confirmou ele, que considera o desempenho da indústria dentro de um processo de normalidade.
Outros indicadores apontam para a retomada em 2012. Dois setores cruciais, considerados como termômetros da atividade industrial, vêm registrando crescimento. O de embalagens espera crescimento de 6%. No ano passado as vendas de papelão ondulado bateram recorde histórico, fatores que indicam tendência de alta da produção industrial.